A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é um assunto que vem sendo discutido há cerca de 18 anos. Em meados dos anos 2000, a Lei de Cotas para Pessoas com Deficiência (8.213/91), passou a ter o seu cumprimento exigido com mais ênfase por órgãos públicos e isso tornou-se a força motriz para a inclusão em empresas públicas e privadas.

Apesar dos avanços conquistados, ainda existem diversos mitos e verdades que cercam o tema, muitas vezes apoiados no desconhecimento.

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Vou agora assumir um papel duplo: de especialista em gestão de projetos de Diversidade e Inclusão; e pessoa com deficiência, para comentar alguns desses mitos e verdades, buscando desmistificar concepções equivocadas.

Pessoas com deficiência não possuem qualificação para desempenhar funções no mercado de trabalho.

Mito

A falta de qualificação entre pessoas com deficiência, é uma afirmação muito presente em conversas sobre a temática. Por vezes, digita sem respaldo de dados ou conhecimento, acaba virando uma justificativa infundada para a falta de sucesso de programas de inclusão.

O principal equívoco dessa afirmação está né generalização do público. Não é possível dizer que toda pessoa com deficiência não possui qualificação, ou que isso é mais presente em um determinado grupo, com deficiências específicas, ou outro. A educação brasileira traz por si só desafios latentes. Tais desafios têm a ver com acesso, qualidade de ensino, falta de investimento, localização geográfica entre outros.

De acordo com o Censo Superior da Educação, em parceria com o INEP, o número de alunos com alguma deficiência no Ensino Superior saltou de 20.053, em 2009, para 43.633, em 2018. A representatividade ainda é baixa, mas afasta a ideia de que: a pessoa com deficiência não tem qualificação e que os desafios da educação brasileira impedem que pessoas com deficiência se qualifiquem.

A inclusão de pessoas com deficiência traz benefícios para as empresas

Verdade

A diversidade proporcionada pela inclusão amplia a criatividade, a inovação e a resolução de problemas dentro das organizações. Além disso, a inclusão promove uma cultura corporativa mais inclusiva, fortalecendo a reputação da empresa perante a sociedade e aumentando a satisfação dos funcionários.

Além disso, a dinâmica de inclusão abre portas para melhorias estruturais e de tecnologia dentro das organizações. Por mais que um ambiente esteja engajado em ter um espaço acessível, de acordo com as melhores práticas previstas em lei e pela norma ABNT 90 50, por exemplo, há chance de algo ser aprimorado. Uma demanda específica, de uma pessoa pontual, pode trazer novos insights. Essa possibilidade de inovação, não fica apenas no âmbito estrutural. Ter um colega com deficiência em uma equipe conectada ao produto final de uma organização, por exemplo, pode abrir possibilidades de novas criações conectadas às soluções oferecidas a clientes. Soluções que não teriam sido pensadas, caso não houvesse nenhuma pessoa com deficiência na equipe.

Antes de começar um programa de inclusão, a empresa precisa ser 100% acessível

Mito

Para que a inclusão de pessoas com deficiência seja efetiva, é importante que o ambiente de trabalho seja acessível. Acessibilidade vai além de rampas e banheiros adaptados, englobando também a utilização de tecnologias assistivas, ajustes ergonômicos, adaptação de ferramentas de trabalho e comunicação acessível.

A falta de acessibilidade pode ser uma barreira significativa para a inclusão, impedindo que as pessoas com deficiência exerçam todo o seu potencial.

Mas, essa afirmação não pode ser levada ao extremo. O primeiro ponto que merece reflexão é que muitas vezes estamos preocupados com acessibilidade do ambiente, sem saber quem será a próxima pessoa ser contratada. O número de deficiências e as possibilidades de características, é muito vasta. Existem limitações que demandam mais tecnologia assistiva e outras, menos.

O cuidado para com a acessibilidade deve ser algo sempre priorizado. Já comentei em artigos anteriores que é uma boa prática sempre estar em sintonia com o que a legislação exige em relação à acessibilidade de espaços. Mesmo com isso em dia, o ambiente sempre terá margem para melhorias.

O fato de você ainda tem dúvidas em relação ao nível de acessibilidade que a sua organização apresenta, não pode ser impeditivo para que a equipe de atração e seleção conheça pessoas. Você pode encontrar uma excelente nova possibilidade de contratação. E essa pessoa pode contribuir muito para a melhoria da acessibilidade e cultura inclusiva na sua organização.

A contratação de pessoas com deficiência é apenas uma questão de cumprir cotas

Mito

Embora as cotas sejam importantes para estimular a inclusão, a contratação de pessoas com deficiência vai além disso. É uma oportunidade de diversificar e enriquecer a equipe de trabalho, promovendo a igualdade de oportunidades e a justiça social. As empresas devem ir além do cumprimento das cotas, buscando a valorização das habilidades e competências das pessoas com deficiência, proporcionando oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional.

Existem pessoas com deficiência menos produtivas

Verdade

Essa é uma frase muito interessante. Note que eu não estou dizendo que a pessoa é menos produtiva por causa da deficiência. Estou dizendo que é possível conhecermos e trabalharmos com pessoas com deficiência que são menos produtivas. Aqui estamos falando da personalidade da pessoa. Da postura que ela tem em relação ao trabalho, ou do nível de engajamento que ela vive dentro de uma organização.

Isso tem a ver com comportamento e comprometimento. Interessante pontuar também que se por acaso a deficiência de alguém tiver impacto na produtividade dessa pessoa e ela mantém-se engajada, ela vai demonstrar essa preocupação. Vai reconhecer essa característica e esse impacto, no intuito de encontrar soluções. Afinal de contas, ela é antes de mais nada, uma pessoa engajada com a própria carreira e com os objetivos da empresa.

Programa de inclusão é um programa de RH

Mito

A equipe de Recursos Humanos, pode por muitas vezes, ter as diretrizes do programa, criar ações, acompanhar indicadores. Porém, programas de Diversidade e Inclusão são ações de toda a organização. Todas as pessoas têm a oportunidade de se engajar de uma maneira ou de outra. Pode ser, apoiando uma ação, divulgando informações, contratando pessoas, indicando pessoas para contratação, entre outras possibilidades.

Essas ações são de todas as pessoas.

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