SESMT a favor da inclusão pode ser uma mudança de paradigma. E é espetacular quando acontece.
A atuação do SESMT é ampla e envolve desde a elaboração de laudos técnicos e programas de prevenção até a realização de treinamentos e orientações aos funcionários. Entre as principais atividades desenvolvidas pelo SESMT, podemos destacar a identificação dos riscos ocupacionais, a elaboração de medidas de controle e prevenção, a promoção da saúde e bem-estar dos trabalhadores, o controle de doenças ocupacionais, entre outras.
A importância do SESMT para as organizações é indiscutível, porque além de garantir a segurança e saúde das pessoas da organização, a sua atuação também contribui para a redução de custos relacionados a afastamentos, acidentes de trabalho e processos trabalhistas.
Essa dinâmica conta com um grupo de profissionais de áreas diferentes, olhando para o mesmo propósito. Isso é cuidado, presença e conhecimento técnico a favor da saúde de quem faz negócios girarem.
Então temos um time todo que conhece de engenharia, estrutura e saúde física e mental. Estrutura e saúde são pilares fundamentais para que a inclusão dê certo. Logo, ter uma equipe como essa é um recurso potente a favor da inclusão e isso funciona. Certo?
Não. Nem sempre.
O que acontece é muito curioso e intrigante. A união entre ações de inclusão e a atuação do SESMT pode não ter sucesso, mesmo os dois lados cumprindo os seus papéis. Para entender melhor essa dinâmica, é necessário olhar para algo que está muito além de qualquer organização.
A Medicina do Trabalho que olha o quadro e não a pessoa
A deficiência de alguém é uma característica que passa necessariamente pelo mundo da medicina. Qualquer deficiência tem um CID – Código Internacional de Doenças.
O CID faz referências à literatura médica, que é fundamental, mas pode ser insuficiente. Analisar uma deficiência tendo como única base a literatura clínica, é um dos pilares do modelo médico.
O modelo médico na inclusão de pessoas com deficiência é um modelo tradicional que enxerga a deficiência como uma condição individual e médica, e não como uma questão social ou cultural. Nesse modelo, a deficiência é vista como uma limitação física ou mental do indivíduo, que precisa ser corrigida ou tratada para que ele possa se adaptar às normas e expectativas da sociedade.
No contexto da inclusão de pessoas com deficiência, o modelo médico é criticado por focar apenas na deficiência em si, sem levar em consideração o ambiente social e cultural em que ela ocorre. Esse modelo tende a culpar a deficiência pela exclusão e discriminação que a pessoa com deficiência enfrenta, em vez de reconhecer que as barreiras sociais e estruturais são as principais responsáveis por essa exclusão.
A Segurança do Trabalho que mitiga riscos
Mitigar riscos é um processo de identificação, avaliação e redução dos riscos envolvidos em uma atividade, projeto ou negócio, com o objetivo de minimizar ou eliminar possíveis perdas ou danos.
O processo de mitigação de riscos envolve várias etapas. A primeira etapa é a identificação dos riscos, que consiste em identificar as ameaças ou eventos que podem causar danos ou perdas. Em seguida, é realizada a avaliação dos riscos, que envolve a análise da probabilidade de ocorrência e do impacto das possíveis perdas ou danos.
Com base na avaliação dos riscos, é possível adotar medidas para reduzir ou controlar os riscos identificados. Essas medidas podem incluir a implementação de controles de segurança, a revisão de processos e procedimentos, a adoção de medidas preventivas ou corretivas, a contratação de seguros, entre outras.
Mitigar riscos está na essência da Segurança do Trabalho, da mesma maneira que entender de saúde está na Medicina Ocupacional.
Características clínicas + análise de riscos e recomendações de mitigação = Decisões assertivas sobre inclusão.
Essa fórmula tem lógica e parece segura, mas é receita de exclusão. Existe um elemento faltante e essencial: a pessoa.
Nessa equação, de quem eu estou falando? Quem é essa pessoa? Qual a história dela e quais experiências ela tem? Quais soluções ela já encontrou para desafios de inclusão, antes de chegar ao meu processo seletivo?
Na equação acima, eu não falo sobre ninguém. Estou analisando apenas características técnicas tanto de um lado quanto do outro. Logo nessa análise eu já excluo o indivíduo. E deixo de fora outros elementos ainda mais valiosos na dinâmica de seleção: a pessoa tem competência para a vaga? Houve fit cultural? Profissionalmente falando, seria uma contratação de valor para a equipe e para a organização?
O que a equação responde é: Essa deficiência se enquadra nessa vaga? Um processo seletivo não pode ser assim, não deve ser assim e não é estratégico ser assim.
A solução está em uma mudança de ângulo
Felizmente o modelo médico não é a única prática possível. Ela está, inclusive, sendo substituída por outra, mais inteligente e global. Estou falando do modelo social.
O modelo social na inclusão de pessoas com deficiência é um conjunto de valores, políticas e práticas que visam eliminar as barreiras sociais, culturais e econômicas que impedem a plena participação e inclusão das pessoas com deficiência na sociedade.
Ao contrário do modelo médico ou individual, que enfatiza as limitações físicas ou cognitivas da pessoa com deficiência, o modelo social coloca a ênfase na maneira como a sociedade e as instituições criam barreiras que impedem a participação plena e igualitária dessas pessoas. Essas barreiras podem incluir atitudes discriminatórias, falta de acessibilidade física, comunicação inadequada, falta de oportunidades educacionais e de emprego, entre outras.
O modelo social busca mudar essa realidade, garantindo que as pessoas com deficiência tenham acesso aos mesmos direitos, oportunidades e recursos que as pessoas sem deficiência, permitindo que elas vivam de forma autônoma e independente em todos os aspectos da vida.
Esse modelo é um convite para a saúde ocupacional olhar para as pessoas na sua totalidade. Considerar os seus aspectos de interação com o mundo do qual ela faz parte. De maneira não surpreendente, essa é a base de um cuidado integral da saúde, não é mesmo?
Vamos modificar nossa equação:
Notem que não estamos excluindo o conhecimento técnico da medicina ocupacional e nem as recomendações da segurança do trabalho. A mudança é que agora o SESMT está trabalhando a partir da decisão positiva pela contratação e levando em consideração tudo o que aquela pessoa pode ter de insights para fazer a inclusão acontecer.
No primeiro cenário, a deficiência é encarada como uma vulnerabilidade que traz risco. Nada mais. É um risco que precisa ser mitigado.
No segundo cenário, a deficiência ainda é uma vulnerabilidade. O risco ainda existe. Mas é uma vulnerabilidade que precisa ser entendida e o indivíduo tem o direito de ser acolhido e protegido pelo seu ambiente de trabalho.
E sem muitas surpresas, é uma nobre missão para as equipes SESMT.